INSISTÊNCIA EM REPETIR

Conta-se que, certa vez, no sul da China, um nativo foi convidado para assistir a uma série de conferências religiosas. Era uma homem simples, naturalmente, mas curioso e observador. Comparecei logo na primeira noite e gostou.




Os pensamentos do orador, embora estranhos para ele, não deixavam de ser interessantes. Voltou na noite seguinte e, ao término dessa segunda conferencia, arrasou consigo mesmo. "Ora, esse orador disse hoje quase que a mesma coisa de ontem".



Contudo nem tudo isso deixou de voltar nas outras três noites seguintes.



Na última noite, continuou no recinto, até que as pessoas se afastarem totalmente.



Assim a sós com o pregador, ele arriscou a seguinte observação:



- Afinal, pregador, por que motivo o senhor não fala de outras coisas igualmente interessantes e até mais abrangentes? Assisto a todas as suas conferências e o assunto foi sempre o mesmo: Buda. Não tem nenhum outro nome que passa ser mencionado?



O orador, maduro e muito experiente, sobretudo muitíssimo hábil, encontrou de imediato uma extra ordinária saída. Perguntou-lhe:



- Desculpe a minha curiosidade, mas o que o amigo como no almoço?



Como arroz, principalmente - respondeu o nativo com prontidão.



- E no jantar, qual e o seu prato predileto? continuou o pregador.



- Ainda o arroz - respondeu o chinês.



- O senhor costuma cear a noite antes de dormir? - insistiu ainda.



- Sim, fazemos isso todas as noites em nossa casa respondeu o nativo.



- E na ceia, o que a família costuma comer?



- Também arroz. Uma refeição só será completa pra mim se houver arroz.



- E, ontem, o senhor comeu arroz nas três refeições?



- Sim, praticularmente, só como arroz. Entendo que esse cereal me dá vida, força e saúde.



Depois desse diálogo, aparentemente tão sem importância, o pregador, em poucas palavras, prestou o mais profundo esclarecimento que aquele nativo carecia de ouvir para entender que o nome de Buda é o mais abrangente:



- Pois essa é justamente a razão de eu só falar com Buda. Ele é o meu amigo. Ele me enche a vida e a alma. Ele é capaz de preencher qualquer necessidade que eventualmente eu possa ter. Por causa desse tão maravilhoso relacionamento entre mim e Buda e em virtude das muitas bênçãos que dele recebo é que a minha boca não sabe falar de outra coisa. O meu coração está totalmente tomado por essas experiência. Não acha agora razoável a minha insistência em repetir, dia após dia, esse nome?

(Alexandre Rangel)