quarta-feira, 30 de maio de 2012

Rui Mingas "Monagambé"

Naquela roça grande


não tem chuva

é o suor do meu rosto

que rega as plantações;

Naquela roça grande

tem café maduro

e aquele vermelho-cereja

são gotas do meu sangue

feitas seiva.



O café vai ser torrado

pisado, torturado,

vai ficar negro,

negro da cor do contratado.

Negro da cor do contratado!



Perguntem às aves que cantam,

aos regatos de alegre serpentear

e ao vento forte do sertão:



Quem se levanta cedo?

quem vai à tonga?

Quem traz pela estrada longa

a tipóia ou o cacho de dendém?

Quem capina e em paga recebe desdém

fuba podre, peixe podre,

panos ruins, cinquenta angolares

"porrada se refilares"?



Quem?

Quem faz o milho crescer

e os laranjais florescer?

- Quem?

Quem dá dinheiro para o patrão comprar

máquinas, carros, senhoras

e cabeças de pretos para os motores?



Quem faz o branco prosperar,

ter barriga grande

- ter dinheiro?

- Quem?



E as aves que cantam,

os regatos de alegre serpentear

e o vento forte do sertão

responderão:



- "Monangambééé..."



Ah! Deixem-me ao menos subir às palmeiras

Deixem-me beber maruvo

e esquecer diluído

nas minhas bebedeiras



- "Monangambéé...'"



António Jacinto (Poemas, 1961)













«A LIBERDADE É A COMPREENSÃO DA NECESSIDADE»

http://www.youtube.com/watch?v=f7CPHC0hZHA